Habilidades psicológicas trabalhadas na prática do Tênis: Atenção e Concentração

Quando você assiste um jogo de tênis, quais comportamentos dos jogadores mais chamam a sua atenção? Um bom FOREHAND? Talvez um BACKHAND habilidoso, com variações? Ou aquele potente primeiro SAQUE? Ao observamos os tenistas em quadra, comportamentos técnicos do tênis são evidentes, visíveis e admiráveis. No entanto, já paramos para pensar nos pré requisitos psicológicos para esses comportamentos técnicos ocorrerem com tamanha sincronia, potência e precisão? Como os tenistas profissionais conseguem repetir esses comportamentos tantas vezes consecutivas? Como treinar seu cérebro para jogar os momentos mais importantes do jogo no seu maior nível de tênis?

Durante o processo de evolução no tênis, da mesma forma que o nível técnico e físico são treinados, refinados e aprimorados pelo jogador, encobertamente, e muitas vezes, sem a consciência total do tenista, o nível psicológico também evolui. Existem duas habilidades psicológicas que são consideradas como os alicerces centrais do aprendizados e desenvolvimento de qualquer indivíduo em qualquer atividade ou modalidade esportiva: a atenção e a concentração.

Existem diversas definições conceituais sobre atenção e concentração, descritas por diferentes abordagens da Psicologia. O objetivo deste texto é concentrar a análise dessa habilidade psicológica nas ocorrências (ou não ocorrência) do comportamento de atenção e concentração durante a prática do tênis.

Imagine o momento de sacar para fechar um jogo de tênis. Este jogo foi disputado ponto a ponto de forma altamente competitiva por ambos jogadores, e o placar atual é 7/5, 5/7, 6/6, o placar no tiebreak é 6/5 e o jogador que está sacando tem um match point. Imagine que no momento que o sacador joga a bola para cima, ele tem uma flutuação da atenção, e visualiza o troféu do torneio. O jogo empata 6/6 e, poucos instantes depois, o jogador que teve o primeiro match point toma a virada e perde o jogo por 8/6.

Apesar da disputa física, técnica e tática, em todo jogo de tênis existe uma competição psicológica presente. Esse duelo mental do tênis percorre todas as habilidades psicológicas do comportamento humano, tais como a resiliência, tolerância a frustração, lidar com adversidades, desempenho sob pressão, auto confiança, liberdade de preocupações, tempo de reação, solução de problemas, gerenciamento da ansiedade e, principalmente, a frequência de repetições e o tempo de duração dessas repetições em que o tenista consegue se manter atento e concentrado na bola, na quadra, no adversário, no próprio corpo e, consequentemente, no jogo como um todo.

Atualmente, inúmeros autores publicam pesquisas aplicadas descrevendo os efeitos que intervenções comportamentais produziram no aprendizado, aquisição e refinamento do nível de desempenho da atenção e concentração em tenistas de diferentes níveis e faixas etárias.

Guillot et. al. (2013) publicou um estudo que teve como objetivo verificar o efeito do treinamento encoberto (ou visualização mental) sobre o desempenho do comportamento de saque de tenistas. O autor considerou duas situações em seu experimento, o treinamento e o jogo. As unidades de medida utilizadas para mensurar o desempenho dos tenistas foram a velocidade da bola, o número de acertos e os pontos ganhos com o saque durante o jogo. O resultados mostraram que após a exposição a intervenção com treinamento encoberto, todas as categorias analisadas produziram aumentos de desempenho, tanto nas situações de treino como nos jogos.

Considerando a importância das habilidades psicológicas no processo de aprendizagem do indivíduo, é essencial o treinamento da atenção e concentração de forma tão planejada e científica como em todos os outros tipos de habilidades (físicas, técnicas, táticas, nutricionais, regenerativas, etc) que são treinadas durante o processo de desenvolvimento de um tenista. A exposição regular a treinamentos específicos de atenção e concentração podem beneficiar o tenista não apenas em momentos importantes de jogos ou torneios mas, principalmente, em situações decisivas presentes na vida, em todas as fases do seu desenvolvimento humano.

Para verificar o seu nível de atenção e concentração no tênis, utilize unidades de medida que são possíveis de serem mensuradas, como o tempo (fazendo uso de um cronometro ou timer) e os número de acertos (quantidade de bolas boas durante o exercício). A análise do seu nível de atenção e concentração estará relacionada ao maior tempo em que você conseguir acertar o maior número de bolas no local escolhido, consecutivamente.

Essa verificação pode ser realizada em todos os golpes do tênis. Para analisar o seu nível de atenção e concentração em determinado golpe, sugiro o seguinte roteiro:

1) Escolha o golpe que quer verificar (por exemplo: FOREHAND);
2) Peça ao seu treinador que lance as bolas para você executar o golpe escolhido;
3) Ligue (ou peça para o treinador ligar) um cronometro e contar quantas bolas você acerta na quadra antes de executar seu primeiro pré teste;
4) Comece a sua série de golpes livremente;
5) Após o primeiro erro, pause o cronometro e registre por quanto tempo você conseguiu se manter concentrado e quantas bolas você acertou dentro da quadra, durante aquela série;
6) Repita esse exercício 10 vezes, sempre registrando o tempo destacado no cronometro e o número de bolas acertadas na quadra;
7) Após a realização das 10 séries, some todos os registros de tempo e acertos e divida por 10 para encontrar sua média de tempo e acertos concentrado no golpe escolhido;
8) Discuta, reflita e encontre estratégias físicas, técnicas, táticas e psicológicas com sua equipe (treinador, preparador físico, psicólogo do esporte) para realizar intervenções que aumentem o seu nível de atenção e concentração nos golpes mapeados;

Lembre-se que o principal é concentrar a atenção para ficar sob controle dos indicadores fisiológicos do corpo (dopamina, adrenalina, respiração, batimentos cardíacos, etc.) que são variáveis que aumentam a probabilidade de ocorrência do comportamento de atenção do tenista. E, principalmente, na alegria, diversão e prazer durante a prática do tênis, o que motiva cada vez mais a fluidez do seu desempenho na quadra.

REFERÊNCIAS:

Weinberg, S. & Gould, D. (2006). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2. ed. – Porto Alegre: Artmed Editora.

Guillot, A.; Desliens, S.; Rouyer, C. & Rogowski, I. (2013). Motor imagery and tennis serve performance: The external focus efficacy. Journal of Sports Science and Medicine, 12, p. 332-338.

2018-02-28T17:11:07+00:00